Ferrovias: atrasos, disputas, viabilidade econômica e audiências decisivas para o futuro do setor

O Plano Nacional de Ferrovias enfrenta um momento crítico, com atrasos, divergências sobre traçados e a necessidade de garantir a atratividade para o setor privado. Audiências públicas em março serão cruciais para o futuro da FIOL

Caso de Política com ANTT – O aguardado Plano Nacional de Ferrovias (PNF), ferramenta crucial para a modernização e expansão da malha ferroviária brasileira, encontra-se em um limbo, com o lançamento adiado indefinidamente. O plano, que ambiciona destravar investimentos significativos no setor, por meio da concessão de cinco grandes projetos à iniciativa privada, esbarra em uma série de obstáculos que colocam em xeque sua efetividade e a promessa de um novo impulso para o transporte de cargas no país.

O cerne da questão reside na complexidade de conciliar interesses diversos e garantir a viabilidade econômica dos empreendimentos. A definição do futuro da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), por exemplo, paira como uma incógnita. O governo avalia se a malha, com seus 7,2 mil quilômetros de extensão, será relicitada ou se o contrato com a VLI Logística, que se aproxima do vencimento, será renovado. A FCA, que cruza oito unidades da Federação, é estratégica para o escoamento de produtos em diversas regiões, e sua indefinição gera apreensão no setor.

Outro ponto crítico é a Ferrogrão, projeto que liga as regiões produtoras de grãos do Mato Grosso aos portos do Arco Norte, no Pará. A iniciativa, de alta relevância para o agronegócio brasileiro, encontra-se paralisada no Supremo Tribunal Federal (STF) devido a questionamentos sobre a destinação de áreas do Parque Nacional do Jamanxim. A busca por soluções que conciliem o desenvolvimento econômico com a preservação ambiental é um desafio constante, e o governo instituiu um grupo de trabalho para analisar a viabilidade socioambiental e econômica do projeto.

A situação da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL) e da Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (FICO), que juntas formam o Corredor Leste-Oeste, ilustra a complexidade das disputas regionais. A FIOL, com um trecho já concedido e outro em construção, é vista como fundamental para ligar o Oeste da Bahia ao Porto de Ilhéus, impulsionando a exportação de grãos e minérios. No entanto, a proposta de alteração do traçado, com o desvio da rota para Mara Rosa (GO), tem gerado forte reação na Bahia, que teme ser preterida em relação a outros estados.

A indefinição sobre a instalação de um Porto Seco em Barreiras (BA) também agrava o cenário de incertezas. A comunidade local, ciente do impacto econômico que a infraestrutura pode gerar, teme que o projeto seja transferido para outro município, prejudicando o desenvolvimento da região.

O governo federal reconhece que a implantação de ferrovias é um processo complexo e demorado, com um retorno de investimento mais lento em comparação com outros modais de transporte. Para contornar essa dificuldade, a União sinaliza que poderá arcar com uma parcela dos investimentos, que varia de 20% a 30% do total, dependendo da ferrovia. Essa medida visa garantir a atratividade dos projetos para o setor privado e viabilizar sua execução.

A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) abriu consulta pública sobre as concessões da FICO e da FIOL, com sessões presenciais agendadas para:

  • 11 de março de 2025 – Brasília (DF) Sessão híbrida (presencial e virtual) Horário: 8h30 Local: Setor de Clubes Esportivos Sul – SCES, trecho 03, lote 10, Projeto Orla, Polo 8 Capacidade: 353 lugares
  • 12 de março de 2025 – Salvador (BA) Sessão presencial Horário: 14h Local: A definir
  • 14 de março de 2025 – Cuiabá (MT) Sessão presencial Horário: 14h Local: A definir

As audiências são cruciais para que a sociedade e os investidores apresentem suas contribuições, garantindo que o projeto seja sustentável, eficiente e inovador.

Em contrapartida, os acordos já firmados com empresas como MRS Logística, Rumo e Vale, em troca da repactuação de contratos de concessão, demonstram o esforço do governo em impulsionar o setor e garantir recursos para novos investimentos. No entanto, os desafios persistem, e a complexidade do cenário exige uma abordagem estratégica e a busca por soluções que conciliem os interesses de todos os envolvidos.

O sucesso do Plano Nacional de Ferrovias dependerá da capacidade do governo em superar as divergências regionais, garantir a viabilidade econômica dos projetos e atrair investimentos privados para o setor. Somente assim será possível destravar o potencial do transporte ferroviário no Brasil e impulsionar o desenvolvimento econômico e social do país.

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Governo Lula planeja impulsionar ferrovias e investindo mais de R$ 20 bi através de repactuações contratuais

Segundo o ministro dos Transportes, Renan Filho, a expectativa é que o Plano Nacional de Ferrovias seja lançado ainda neste semestre

Caso de Política | Luís Carlos Nunes – O cenário do transporte ferroviário no Brasil está prestes a passar por uma significativa transformação, com o anúncio do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de investir mais de R$ 20 bilhões no ambicioso Plano Nacional de Ferrovias. Essa injeção de recursos será viabilizada por meio de repactuações contratuais e renovações antecipadas de concessões, revelou o ministro dos Transportes, Renan Filho.

A estratégia delineada pelo governo é engenhosa: utilizar esse montante como alicerce para parcerias público-privadas (PPPs), mediante leilões onde a empresa que oferecer o maior desconto ao erário público será premiada com a concessão. Renan Filho detalhou que a maior fatia desses recursos virá da revisão de contratos com a Vale, destacando os valores em questão: R$ 21,1 bilhões referentes a Carajás e R$ 4,6 bilhões de Vitória-Minas.

A Vale, por sua vez, já apresentou uma proposta ao governo, alimentando expectativas de um acordo iminente. Além dessa gigante mineradora, outras empresas estão sob escrutínio do Ministério dos Transportes, como a Rumo, que se comprometeu a destinar R$ 1,5 bilhão para o Plano de Ferrovias em decorrência da renovação da concessão da Malha Paulista. A MRS Logística também está na mira, com uma cobrança de R$ 3,7 bilhões por parte do governo.

Essas renovações antecipadas de concessão, celebradas durante gestões anteriores, estão sendo objeto de escrutínio pelo governo Lula, que questiona os descontos concedidos, considerados excessivos. Renan Filho adiantou que o governo pretende lançar em breve uma portaria com novas diretrizes para essas renovações, permitindo que empresas como a VLI, operadora da Ferrovia Centro Atlântica (FCA), possam renegociar seus contratos ou que os ativos sejam disputados em leilões por outras empresas.

Embora a data oficial de lançamento do plano ainda não esteja definida, Renan Filho assegurou que isso acontecerá ainda neste semestre. Quanto aos projetos contemplados, embora não tenham sido fornecidos detalhes precisos, o ministro destacou o interesse da pasta em incluir a Ferrogrão, conectando Mato Grosso ao Pará, além da Ferrovia de Integração Centro-Oeste (Fico) e a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), todas com potencial para viabilizar o escoamento da produção agropecuária para o litoral.

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