“Operação Terra Justa” desarticula milícia armada ligada a conflitos fundiários no oeste da Bahia

Grupo criminoso que atuava há mais de uma década ameaçando comunidades tradicionais a serviço de grandes fazendeiros é alvo de operação do MPBA e da Polícia Civil, com prisões e apreensões em Correntina e Jaborandi

Caso de Política | Luís Carlos Nunes – Uma operação conjunta do Ministério Público do Estado da Bahia (MPBA), por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), e da Polícia Civil, com apoio da Corregedoria Geral da Polícia Militar e da Cipe Cerrado, deflagrou nesta sexta-feira (25) a “Operação Terra Justa” no oeste da Bahia. O objetivo foi desarticular uma milícia armada que atuava há mais de dez anos na região, intimidando e praticando violência contra comunidades tradicionais em meio a conflitos fundiários.

A operação cumpriu dois mandados de prisão e quatro mandados de busca e apreensão nos municípios de Correntina e Jaborandi. Foram apreendidos aparelhos eletrônicos, armas e munição. Os alvos foram integrantes do grupo criminoso, que já havia sido denunciado à Justiça pelo MPBA pelo crime de milícia privada. Os mandados foram expedidos pela Vara Criminal de Correntina, com base em investigações que comprovaram a atuação da organização em áreas rurais do município.

Segundo as investigações, a milícia operava por meio de uma empresa de fachada com registro de segurança privada, porém sem a devida autorização legal da Polícia Federal. O grupo criminoso prestava serviços a grandes fazendeiros da região, sendo responsável por ameaças, lesões corporais e grilagem de terras contra comunidades tradicionais de fundo e fecho de pasto. A atuação da milícia visava expulsar famílias posseiras e povos tradicionais de suas terras, beneficiando os interesses dos contratantes.

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Operação Faroeste: STJ rejeita pedido de José Valter Dias e Filho para análise técnica de documentos empresariais

A Operação Faroeste tem revelado um esquema complexo de corrupção e grilagem de terras no oeste da Bahia, envolvendo juízes, advogados e empresários

Caso de Política | Luís Carlos Nunes – A Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou os pedidos de José Valter Dias e seu filho, Joilson Gonçalves Dias, ambos investigados na Operação Faroeste, para a indicação de um assistente técnico que analisaria os documentos contábeis e constitutivos da empresa JJF Holding. A empresa, segundo as investigações, pertence a Joilson e ao casal Maturino.

A família Dias argumentou que, apesar de não haver uma perícia oficial sobre os documentos da holding nos autos, seria essencial obter um parecer técnico para validar e verificar a regularidade desses documentos. Contudo, o Ministério Público Federal (MPF) se opôs ao pedido, afirmando que a nomeação de um assistente técnico só seria permitida após a designação de um perito judicial para a realização da perícia sobre o objeto contestado.

A decisão do STJ levanta várias questões pertinentes: por que a defesa de José Valter e Joilson Dias não conseguiu demonstrar a necessidade dessa análise técnica? Qual seria o impacto de tal parecer na comprovação da legalidade das operações da JJF Holding? Essas perguntas permanecem sem resposta, contribuindo para uma aura de desconfiança em torno das intenções dos investigados.

O ministro relator, Og Fernandes, justificou a rejeição do pedido destacando que os investigados não especificaram quais pontos dos documentos contábeis e constitutivos da JJF Holding precisavam de esclarecimento. Segundo ele, sem a indicação clara de exames periciais e sem comprovar a indispensabilidade da medida, o pedido não poderia ser aceito. Fernandes ainda ressaltou que, conforme o artigo 159 do Código de Processo Penal, a indicação de assistente técnico pelas partes depende da existência de uma perícia oficial, o que não se aplicava ao caso.

Essa decisão do STJ não impede que a defesa apresente outros tipos de prova documental. Na verdade, o ministro Og Fernandes mencionou que uma das rés já adotou essa providência, apresentando documentos durante as diligências realizadas em sua residência e gabinete. Assim, a negativa de indicação de um assistente técnico não fecha todas as portas para a defesa dos investigados, mas limita suas possibilidades de contestar a validade dos documentos da JJF Holding.

A Operação Faroeste tem revelado um esquema complexo de corrupção e grilagem de terras no oeste da Bahia, envolvendo juízes, advogados e empresários. A rejeição deste pedido específico é mais um capítulo nesse imbróglio judicial, que continua a suscitar debates sobre a transparência e a lisura dos procedimentos judiciais e empresariais dos envolvidos.

O cerne da questão parece ser a falta de clareza e especificidade da defesa de José Valter Dias e seu filho. Sem conseguir justificar adequadamente a necessidade de um assistente técnico, sua estratégia defensiva sofre um revés significativo. Isso abre espaço para especulações sobre a real situação dos documentos da JJF Holding e a possível existência de irregularidades que os investigados talvez desejassem ocultar.

Com a decisão do STJ, permanece a pergunta: quais serão os próximos passos da defesa e como isso afetará o andamento da Operação Faroeste? A cada nova decisão, o cerco se fecha mais um pouco sobre os investigados, aumentando a expectativa por respostas claras e definitivas sobre as alegações de corrupção e fraude.

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Corrupção leva CNJ a avaliar plano de intervenção no Judiciário da Bahia

Com base em reportagem de Robson Bonin, publicada na coluna Radar da Revista Veja e dados dos arquivos de O Expresso

Do Jornal OExpresso – A explosiva delação do empresário Walter Horita junto à Procuradoria Geral da República(PGR) sobre o desenrolar da Operação Faroeste, no Oeste baiano, levou o Conselho Nacional de Justiça a analisar a possibilidade de intervenção no Judiciário baiano, tanto são os envolvidos na trama de compra de sentenças e grilagem de terras.

Os primeiros envolvidos antes da delação premiada de Horita

Investigação cita “cooptação dos agentes do sistema de justiça” pelo crime; fazendeiro fechou acordo com a PGR e admitiu ter comprado decisões dos magistrados baianos. Horita, um dos quatro mentores e financiadores da conspiração, apontou, na delação ainda em segredo de justiça, todo o esquema de corrupção.

O Conselho Nacional de Justiça vai focar, nas próximas semanas, num grande escândalo da magistratura. Investigações da Polícia Federal e do próprio órgão revelam um quadro institucionalizado de corrupção ainda vigente no Judiciário da Bahia. Há possibilidade de intervenção no tribunal, algo extremamente grave para os padrões decisórios do CNJ.

Em 2019, a PF desmontou um esquema de venda de sentenças no TJ-BA. Desembargadores, juízes, advogados e empresários foram presos. O fazendeiro Walter Horita fechou acordo com a PGR, até hoje sigiloso, em que confessa ter comprado decisões de magistrados baianos. O Radar teve acesso ao caso. Horita pagou 30 milhões de reais para se livrar das acusações de corrupção.

“O investigado confessou formal e circunstanciadamente a prática delitiva no curso da investigação. O compromissário atuou comprando decisões numa ambiência profissional de mercancia judicial pelo Tribunal.”

Além de corromper magistrados, o esquema envolvia o Ministério Público e a Secretaria de Segurança da Bahia. Quem não era comprado, era ameaçado de morte.

Ainda nesta semana, o STJ aceitou novas denúncias contra magistrados investigados por venda de decisões judiciais. Apesar de afastados, eles continuam recebendo salários. O número de magistrados envolvidos continua a ser atualizado frente à delação e novas denúncias.

Osmar Serraglio, ex-ministro da Justiça é visto em Formosa do Rio Preto; ele defende parte autora em disputa de terra contra ex-prefeito da cidade

Do centro das decisões nacionais ao palco de conflitos agrários em Formosa do Rio Preto | Foto de Darlan Lustosa do Portal do Cerrado

Caso de Política | Luís Carlos Nunes – Na calorosa paisagem de Formosa do Rio Preto, Bahia, onde os conflitos agrários se entrelaçam com a história da terra, uma figura conhecida surge no horizonte. Osmar Serraglio, ex-ministro do governo de Michel Temer e figura proeminente como ex-deputado federal pelo Paraná, foi avistado em uma visita à cidade nesta quarta-feira (11/04), desfrutando de um almoço em um dos restaurantes locais, conforme relata o Portal do Cerrado, parceiro do Caso de Política.

No epicentro de uma batalha jurídica envolvendo disputa de terras, Serraglio emerge como defensor da parte autora, Ana Gabriela Villasboas Da Silva Borges. Ela busca a reintegração de posse de uma área, tendo como adversário um ex-prefeito da cidade. O processo, identificado pelo número 8000088-32.2023.8.05.0081, encontra-se sob a análise da 1ª Vara dos Feitos Relativos às Relações de Consumo, Cíveis e Comerciais de Formosa do Rio Preto.

O Dr. Serraglio traz consigo uma bagagem de experiência ímpar, tendo ocupado o posto de Ministro da Justiça durante a gestão de Michel Temer, quando Alexandre Morais ascendeu ao Supremo Tribunal Federal (STF). Sua trajetória não se limita apenas ao campo jurídico; em abril de 2017, o mesmo ano em que assumiu o cargo ministerial, Osmar Serraglio foi honrado com o mais alto grau da Ordem do Rio Branco, a Grã-Cruz suplementar, em reconhecimento aos seus serviços. Tal distinção ecoa uma história de engajamento e dedicação que remonta a anos anteriores, quando, em 2004, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva conferiu a Serraglio o título de Grande-Oficial especial da Ordem do Mérito Militar.

Fonte: Diário Oficial do TJ/BA – 11/04/2024

Uma breve análise da questão

A presença de Osmar José Serraglio em Formosa do Rio Preto não é apenas uma questão jurídica isolada; é um lembrete das complexas interseções entre política, poder e justiça que permeiam a paisagem brasileira. Como ex-ministro da Justiça, Serraglio está intimamente familiarizado com os desafios enfrentados pelo sistema judiciário brasileiro, especialmente quando se trata de lidar com questões de terra e propriedade. Sua presença nesse caso específico ressalta a necessidade de uma abordagem mais abrangente para enfrentar os problemas de grilagem e conflitos agrários, uma abordagem que leve em consideração não apenas os aspectos legais, mas também as dinâmicas políticas e sociais subjacentes.

À medida que o Brasil continua a lidar com questões de desigualdade e injustiça, especialmente no que diz respeito à distribuição de terras, figuras como a do advogado Osmar Serraglio desempenham um papel crucial ao chamar a atenção para esses problemas e buscar soluções que promovam a justiça e a equidade. Sua presença em Formosa do Rio Preto é um lembrete de que, apesar dos desafios, há esperança de que um dia essas comunidades possam alcançar uma resolução justa para seus conflitos de terra e construir um futuro mais sustentável e inclusivo para todos.

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Investigação liga crimes no Cerrado a gigantes da moda na Europa

Reportagem de Deutsche Wellei | IstoÉ – Até chegarem nas vitrines de gigantes como Zara e H&M, calças, bermudas, camisetas e meias de algodão deixam para trás um rastro de desmatamento, grilagem de terras e violação de direitos humanos no Brasil. Para o consumidor, as peças parecem acima de qualquer suspeita: a maioria estampa um selo de produção sustentável.
A denúncia faz parte do relatório Fashion Crimes da organização Earthsight, publicado nesta quinta-feira (11/04). Ao longo de um ano, uma investigação detalhada focou nos negócios que conectam as lavouras do Brasil, quarto maior produtor da commodity no globo, às marcas europeias.A ong analisou o caminho percorrido por 816 mil toneladas de algodão com a ajuda de imagens de satélite, registros de envios de mercadoria, arquivos públicos e visitas às regiões produtoras.

Segundo o relatório, essa matéria-prima foi destinada especialmente a oito empresas asiáticas que, entre 2014 e 2023, fabricaram cerca de 250 milhões de itens para as lojas. Muitos deles, alega a investigação, abasteceram marcas como H&M e Zara, entre outras.

“É chocante ver estas ligações entre marcas globais muito reconhecidas, mas que, ao que tudo indica, não se esforçam o suficiente para ter controle sobre estas cadeias de fornecimento, para saber de onde vem o algodão e quais tipos de impacto ele provoca”, diz Rubens Carvalho, chefe de Pesquisa sobre Desmatamento da Earthsight, à DW.

Crimes no Cerrado

O problema, afirma a ong baseada no Reino Unido, está na origem da matéria-prima. O algodão exportado sai principalmente do oeste da Bahia, região imersa no Cerrado brasileiro muitas vezes desmatado ilegalmente para ampliar o cultivo. Em alta, o corte desta vegetação dobrou nos últimos cinco anos, segundo monitoramento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Dentre os casos analisados no relatório, está o grupo SLC Agrícola. Fundado em 1977 no Rio Grande do Sul, o grupo diz ser responsável por 11% do algodão brasileiro exportado (safra 2019/2020).

O estudo da Earthsight também diz que, nos últimos 12 anos, estima-se que 40 mil campos de futebol de Cerrado tenham sido destruídos dentro das fazendas do SLC. Em 2020, a empresa, que também planta soja, foi apontada como a maior desmatadora do bioma, calculam pesquisadores do Chain Reaction Research.

Em 2021, o SLC se comprometeu junto a fornecedores com uma política de desmatamento zero. Um ano após a promessa, um relatório da Aidenvironment identificou o corte de 1.365 hectares de Cerrado dentro das propriedades que cultivam algodão, o equivalente a 1.300 campos de futebol. Quase metade estava dentro da reserva legal.

Uma consulta feita pela Earthsight no banco de dados do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) mostra mais de R$ 1,2 milhão de multas aplicadas por infrações ambientais desde 2008 nas fazendas do grupo no oeste da Bahia.

Uma das acionistas da SLC é a britânica Odey Asset Management. Em 2020, em uma entrevista para o diário britânico Financial Times, o fundador da empresa disse que arcar com as penalidades ambientais no Brasil era algo corriqueiro como “pagar multas de trânsito”.

Questionado, o grupo afirmou por meio de nota à DW que “todas as conversões de área com vegetação nativa da SLC seguiram os limites estabelecidos por lei”. Especificamente sobre a área desmatada em 2022 apontada no relatório da Aidenvironment, a empresa diz que a destruição se deu por “um incêndio natural, não ocasionado para a abertura de novas áreas para produção”.

Sobre as multas aplicadas pelo Ibama, a SLC Agrícola diz ter recorrido administrativamente de todas as autuações. “As multas que foram objeto de recurso estão em tramitação e não houve, até o momento, um julgamento definitivo”, diz a nota.

“Grilagem verde”

Outro grupo analisado em detalhes é o Horita, original do Paraná e atuante na Bahia desde a década de 1980. Dentre as várias denúncias feitas pela Earthsight está a chamada grilagem verde: imposição de reservas legais, ou áreas de preservação de propriedade privada, em zonas onde vivem comunidades tradicionais. A manobra impede que famílias realizem atividades de subsistência e, nos piores casos, permaneçam nas terras.

O conflito fundiário entre as famílias geraizeiras, como se identificam essas comunidades tradicionais na região, e fazendeiros data de 1970. Na década seguinte, a companhia Delfin Rio compra terras e registra o empreendimento como Agronegócio Condomínio Cachoeira do Estrondo. Segundo a Associação de Advogados de Trabalhadores Rurais do estado (AATR), o grupo Horita é um dos sócios do complexo de fazendas.

Em 2017, as famílias geraizeiras da zona rural de Formosa do Rio Preto, no oeste baiano, ajuizaram uma ação contra a Estrondo por grilagem de terra e ganharam, em caráter liminar, a posse coletiva de 43 mil hectares que o empreendimento dizia ter comprado. A maior parte está no coração da Matopiba, zona de expansão do agronegócio que integra os estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, habitada há mais de 200 anos pelos geraizeiros.

Em 2019, a Operação Faroeste da Polícia Federal revelou um conluio do alto escalão do magistrado baiano para favorecer fazendeiros na mesma região. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), um esquema de compra de sentenças teria movimentado cifras bilionárias em disputas de terras e tinha participação de magistrados, empresários, advogados e servidores públicos. Walter Horita, um dos fundadores do grupo, é um dos réus no processo, ainda em julgamento.

Um dos magistrados acusado de vender sentença para grileiros, segundo a Operação Faroeste, atuou na ação que julgava a posse coletiva dos geraizeiros. Segundo a AATR, a liminar a favor das comunidades só passou a ser cumprida após o afastamento e prisão do juiz.

Procurado pela DW, o Grupo Horita declarou nesta quarta-feira que “aguardará a divulgação do relatório para qualquer nova manifestação, para além das que já foram proferidas pelo seu departamento jurídico, em resposta às acusações da ONG”.

“Todas as alegações negativas contra o Grupo Horita constantes da Carta da Earthsight, datada de 23/08/2023, como supostos ‘achados’, não correspondem à verdade”, diz um trecho da resposta enviada à ong.

Rota até as marcas europeias

Durante a investigação, a Earthsight seguiu a rota de 816 mil toneladas de exportações de algodão que saíram da SLC Agrícola e Grupo Horita entre 2014 e 2023 para os principais destinos: China, Vietnã, Indonésia, Turquia, Bangladesh e Paquistão. Com base em dados que permitem rastreio – o que não ocorre no caso chinês –, as pistas levaram a oito fabricantes de roupas na Ásia.

Todas as intermediárias identificadas (PT Kahatex, na Indonésia; Noam Group e Jamuna Group, em Bagladesh; Nisha, Interloop, YBG, Sapphire, Mtmt, no Paquistão) fornecem produtos acabados a marcas como Zara e H&M, segundo aponta a ong.

“O algodão que associamos aos abusos de direitos à terra e ambientais na Bahia tem certificação Better Cotton. Essa iniciativa falhou em impedir que este algodão chegasse aos consumidores preocupados”, afirma o relatório da Earthsight.

Criada em 2009 pela indústria e outras organizações, incluindo a WWF, a iniciativa criou um selo para atestar a origem da matéria-prima no intuito de garantir qualidade e respeito ao meio ambiente. No Brasil, segundo dados da Better Cotton, há 370 fazendas certificadas em parceria com a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa).

Em 2018, uma análise feita pela Changing Markets Foundation, organização que visa alinhar mercados a padrões de sustentabilidade com sede na Holanda, sobre certificadoras apontou problemas na Better Cotton. “Em geral, os padrões para o algodão certificado são baixos e aplicam-se apenas ao início da cadeia de abastecimento de algodão. Considerar o certificado uma garantia de sustentabilidade é enganoso”, dizia o levantamento.

A Better Cotton, sediada em Genebra, disse à DW que acaba de concluir uma auditoria aprimorada feita por terceiros das fazendas envolvidas e que precisa de tempo para analisar as conclusões e implementar mudanças, caso sejam necessárias. “As questões levantadas [pelo relatório] demonstram a necessidade premente de apoio governamental na abordagem das questões trazidas à luz e na garantia de uma implementação justa e eficaz do Estado de direito”, diz o e-mail da iniciativa.

Mais controle das cadeias

À DW, a H&M afirmou que “as conclusões do relatório são altamente preocupantes” e que encaram a questão com muita seriedade. “Estamos em estreito diálogo com a Better Cotton para acompanhar o resultado da investigação e os próximos passos que serão dados para fortalecer e revisar seu padrão”, respondeu a varejista, também por e-mail.

A Zara disse à DW que leva “as acusações contra a Better Cotton extremamente a sério” e exige que a certificadora compartilhe o resultado de sua investigação o mais rápido possível.

“Além disso, solicitamos com urgência as providências tomadas pela Better Cotton para garantir a certificação de algodão sustentável nos mais altos padrões”, disse a varejista por meio de nota.

Nesta quarta-feira, a Inditex, proprietária da Zara, exigiu mais transparência da Better Cotton após anúncio da divulgação do relatório para esta quinta. A Inditex enviou uma carta à iniciativa com data de 8 de abril, pedindo esclarecimentos sobre o processo de certificação e progressos em práticas de rastreamento de cadeias produtivas. A Inditex não compra o algodão diretamente dos fornecedores, mas as empresas produtoras são auditadas por certificadoras como a Better Cotton.

Para Rubens Carvalho, da Earthsight, responsabilizar os europeus é parte da solução para acabar com o desmatamento e violações de direitos nos centros produtores de commodities, como o Brasil.

“O algodão ainda é pouco regulamentado nos mercados europeus. Eles precisam regular seu consumo e desvinculá-lo de impactos negativos ambientais e humanos. É preciso uma regulamentação séria, que puna em caso de descumprimento. Isso aumenta a pressão sobre os produtores”, defende Carvalho.

Fazendas na cidade de Cocos são alvo de disputa entre supostos proprietários, milicianos e grileiros

Há suspeitas de que os ocupantes da fazenda sejam ex-militares do Rio de Janeiro, sendo um da Polícia Militar e o outro da Marinha

Caso de Política | Luís Carlos Nunes – Na cidade de Cocos, no Oeste baiano, uma fazenda tem sido palco de intensos conflitos entre antigos ocupantes e um suposto grupo de milicianos, oriundos do Rio de Janeiro. A tensão atingiu seu ápice em dezembro do ano passado, quando um administrador e sua esposa foram obrigados a deixar a propriedade conhecida como Fazenda São Silvestre.

De acordo com relatos obtidos pelo Bahia Notícias, José Eurico da Silva, o administrador, relatou que, em 17 de dezembro, por volta das 6 horas da manhã, aproximadamente 20 indivíduos armados chegaram à fazenda, alegando possuir um mandado de reintegração de posse. No entanto, nenhum documento foi apresentado para respaldar essa alegação. O casal foi forçado a sair, levando consigo apenas seus pertences móveis.

O advogado que representa o administrador e o suposto proprietário da fazenda, identificado como Maely Guilherme Botelho Coelho, informou que três pedidos de reintegração de posse foram protocolados, mas até o momento não houve resposta da Comarca de Cocos. Joel Mendes, o advogado, declarou que todos os documentos solicitados foram providenciados e que, caso não haja resposta, eles recorrerão ao Tribunal de Justiça (TJ-BA). Há suspeitas de que os ocupantes da fazenda sejam ex-militares do Rio de Janeiro, sendo um da Polícia Militar e o outro da Marinha.

Outro Conflito: Invasão na Fazenda Pau Terra

Além disso, outro caso polêmico chamou a atenção na cidade de Cocos, conforme noticiado pelo Alerta Bahia. Segundo a reportagem, homens armados invadiram a Fazenda Pau Terra, em um episódio ocorrido em 21 de fevereiro, feriado de carnaval.

Os invasores que chegaram à fazenda durante o carnaval portando armas de fogo, expulsaram funcionários e proprietários do local e começaram a construir tendas no local

Os invasores, aparentemente ligados a grileiros, chegaram à fazenda portando armas de fogo, expulsaram os funcionários e proprietários do local e começaram a construir tendas no local. Os novos proprietários da fazenda, Bruno e Dirceu, afirmam que adquiriram a propriedade de Iaroslau Domareski, antigo dono, que a possuía há cerca de 30 anos.

O caso foi registrado na delegacia de Cocos, e os proprietários acionaram a Polícia Militar. No entanto, eles afirmam que as autoridades estão ignorando a situação. Em contato com o site, Bruno Bolognesi Remédio afirmou que eles continuarão lutando pela propriedade e que já entraram com ações judiciais pela reintegração de posse, apresentando toda a documentação que comprova a propriedade da terra.

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