Putin exibe cédula simbólica do Brics e reacende debate sobre moeda comum, Trump ameaça com tarifação de 100%

Nota com bandeiras dos países do bloco sugere ambição de alternativa ao dólar no comércio global

The Castern Herald editado por Caso de Política – A exibição de uma cédula simbólica do Brics pelo presidente russo, Vladimir Putin, provocou um novo ciclo de discussões sobre uma moeda comum entre os países do bloco, composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. O momento ocorreu durante a cúpula em Kazan, no dia 24 de outubro, quando Putin apresentou a nota, ilustrada com as bandeiras dos membros fundadores, como um símbolo das ambições do grupo de buscar alternativas ao sistema financeiro dominado pelo dólar americano.

Segundo a agência russa Sputnik, houve um debate a portas fechadas sobre a viabilidade da moeda comum, enfatizando o desejo de maior independência econômica dos países-membros. Durante a conferência, o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, defendeu a criação de sistemas de pagamentos alternativos para transações comerciais no bloco, alegando que isso reduziria as assimetrias do sistema financeiro global.

Não é sobre substituir nossas moedas, mas garantir que a multipolaridade seja refletida no sistema financeiro internacional”, afirmou Lula, por videoconferência.

Com a presença de líderes de 20 países, incluindo Turquia e Irã, a cúpula destacou propostas concretas, como o desenvolvimento de um sistema de pagamento internacional liderado pelo Brics. O bloco também reforçou sua posição como uma plataforma para criticar a governança financeira dominada por instituições como o FMI e o Banco Mundial, consideradas por membros do Brics como inadequadas para os interesses das economias emergentes.

Trump ameaça tarifas de 100% contra países do Brics em reação à desdolarização

Presidente eleito dos EUA adota retórica agressiva contra planos do bloco de reduzir dependência do dólar

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, elevou o tom contra o Brics ao ameaçar impor tarifas de 100% sobre produtos dos países do bloco, caso avancem com planos de criar uma moeda alternativa ao dólar. Em postagem na rede Truth Social, Trump declarou que os Estados Unidos não tolerarão a tentativa de enfraquecer a supremacia do dólar no comércio internacional.

Esses países devem se comprometer a abandonar qualquer plano de criar uma nova moeda. Caso contrário, enfrentarão tarifas de 100% e dirão adeus ao acesso à economia americana”, escreveu Trump, classificando a ideia como “impossível” de substituir o dólar.

A retórica combativa de Trump ocorre em meio a discussões sobre desdolarização lideradas pelo Brics, que visa reduzir a dependência da moeda americana e criar um sistema financeiro multipolar. Especialistas avaliam que essa postura pode desencadear tensões comerciais e impactos significativos na economia global.

Economistas alertam que as tarifas prometidas por Trump, além de dificultarem o comércio com países do Brics, poderiam elevar os preços de produtos importados nos Estados Unidos e reacender a inflação. Wall Street já manifesta preocupações sobre as possíveis consequências econômicas, enquanto investidores buscam refúgio em títulos do Tesouro americano, diante da expectativa de juros mais altos.

As reações de Trump contrastam com o argumento do Brics de que a desdolarização não visa destruir o sistema financeiro vigente, mas complementá-lo. “É uma alternativa para interesses comuns”, disse o economista Robson Gonçalves, da FGV.

No contexto de crescente polarização global, o Brics busca consolidar-se como uma força capaz de reequilibrar o poder econômico mundial, enquanto Trump reforça o papel do dólar como base do sistema financeiro internacional.

“Estamos perdendo o Brasil para a China”, diz Trump (VÍDEO)

Brics fortalecem parceria econômica e caminham para a liderança na economia do hemisfério sul

Repórter ABC | Luís Carlos Nunes – Durante uma entrevista ao programa Tucker Carlson Tonight, da Fox News, o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, expressou suas preocupações em relação às parcerias econômicas e cooperações firmadas entre Brasil e China. Ele afirmou textualmente: “Estamos perdendo o Brasil”.

A declaração de Trump foi motivada pelos mais de 20 acordos firmados entre os dois países e, especialmente, pelo discurso do ex-presidente Lula durante a posse de Dilma Rousseff na presidência do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), que reúne os países dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Lula declarou que o NBD vai se tornar o grande banco do Sul Global, criando uma alternativa para o comércio entre os países sem o uso do dólar.

Segundo Lula, “a criação deste banco mostra que a união de países emergentes é capaz de gerar mudanças sociais e econômicas relevantes para o mundo”. Ele também criticou a posição hegemônica dos Estados Unidos no comércio internacional, com a imposição do dólar como moeda padrão.

Na entrevista, Trump expôs suas preocupações em relação à possibilidade de a China mudar o padrão monetário global e afirmou que isso equivaleria a perder uma guerra mundial. Ele acrescentou que os Estados Unidos estão perdendo o Brasil, a Colômbia, a América do Sul, o Irã e possivelmente a Rússia, enquanto a China está ganhando.

A criação do FMI em 1944 e os receios com avanços do comunismo

Durante a Conferência de Bretton Woods, nos Estados Unidos, em 1944, a criação do Fundo Monetário Internacional (FMI) foi vista como uma necessidade para a estabilização do sistema monetário internacional, após a Segunda Guerra Mundial. Na época, os receios em relação ao avanço do comunismo no mundo eram elevados, e o FMI foi visto como uma forma de garantir a estabilidade financeira e, consequentemente, fortalecer o capitalismo.

O FMI foi criado como uma organização internacional para promover a cooperação monetária internacional, facilitar o comércio internacional, promover a estabilidade cambial e fornecer assistência financeira a países em dificuldades econômicas. Seu objetivo principal era evitar crises financeiras que pudessem afetar negativamente a economia global e, dessa forma, contribuir para a manutenção do sistema capitalista.

Desde sua criação, o FMI tem sido alvo de críticas por sua atuação, principalmente em relação às condições impostas aos países que solicitam seus empréstimos, que muitas vezes incluem medidas de austeridade fiscal e política monetária restritiva, que podem afetar negativamente a população desses países. Apesar disso, a organização continua a exercer um papel importante no cenário financeiro global.

PIB dos Brics ultrapassa o dos países do G7

Na imagem, Dilma Rousseff (Brasil), Vladimir Putin (Rússia), Pranab Mukherjee (Índia), Xi Jinping (China) e Jacob Zuma (África do Sul), criadores do banco dos BRICS

Durante a VI Cúpula do BRICS, em Fortaleza, no ano de 2014, foi criado o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), também conhecido como Banco do BRICS. A iniciativa partiu de Brasil, Rússia, Índia, China – com ingresso da África do Sul posteriomente a criação _, que buscavam fortalecer a cooperação financeira entre países emergentes e contribuir para o desenvolvimento sustentável.

A instituição, à época foi criada com um capital inicial de US$ 100 bilhões. Ainda em 2014, os Brics reuniam 25% do PIB mundial, mais de 40% da população e um quarto do território do planeta.

Dados mais recentes, levantados pelo site Silk Road Briefing, usando dados da plataforma Megh Updates, com sede na Índia, aponta que as economias dos Brics ultrapassaram as que compõem o G7 (Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos, além da União Europeia). Os cálculos sobre a participação no PIB mundial levam em conta o poder de paridade de compra (PPC).

A tendência deve continuar, mas a distância pode aumentar muito com a expansão do grupo de nações em desenvolvimento, no que é chamado de Brics+. Bangladesh, Egito e Emirados Árabes Unidos acabaram de ingressar no Novo Banco de Desenvolvimento, o Banco do Brics, e o México também pode se juntar ao bloco, assim como a Argentina e outros países latino americanos.

Os atuais Brics agora contribuem com 31,5% do PIB global, enquanto a participação do G7 caiu para 30%. Espera-se que os Brics contribuam com mais de 50% do PIB global até 2030, com a ampliação proposta quase certamente antecipando isso. O PIB da China ultrapassou o dos Estados Unidos em 2015 ao comparar as economias em termos de paridade de compra.

O Banco do BRICS tem como objetivo principal fornecer recursos financeiros para projetos de infraestrutura e desenvolvimento nos países membros e em outras nações em desenvolvimento, visando promover o crescimento econômico e a redução das desigualdades sociais. Além disso, o NBD busca diversificar as fontes de financiamento internacionais, reduzindo a dependência de instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial.

A criação do Banco do BRICS representa uma importante alternativa para países em desenvolvimento que buscam financiamento para projetos de grande envergadura, sem as exigências impostas por outras instituições financeiras internacionais. Apesar das críticas iniciais, o NBD vem conquistando espaço no cenário financeiro global e fortalecendo a cooperação Sul-Sul, contribuindo para a diversificação do sistema financeiro internacional.

Brasil e China fortalecem parceria econômica, enquanto banco dos BRICS ganha destaque como alternativa ao atual sistema financeiro global

Embora ainda haja receios e muita tentativa de manipulação sobre o que é comunismo. Nesse sentido, o que é importante objeto de análise são os importantes acordos firmados pelo Brasil com a China e que o Banco dos BRICS caminha a passos largos para comandar a economia do hemisfério sul. Essa mudança de cenário econômico internacional está gerando grandes receios em alguns países desenvolvidos, assim como acontecia quando foi criado o FMI, em 1944.

É preciso destacar que, atualmente, não existem mais os clássicos países comunistas. Hoje em dia, existem países que procuram a prática da social-democracia, uma forma de governo de centro que busca conciliar a economia de mercado com políticas sociais e uma distribuição mais equitativa de renda e riqueza.

Ao criar o Banco dos BRICS e firmar acordos com a China, o Brasil se reafirma aliado de um grupo de países emergentes que buscam mais autonomia e independência em relação às instituições financeiras tradicionais controladas pelos países desenvolvidos. Essa união pode gerar receios em alguns países, como os Estados Unidos, que já manifestaram preocupações com o fortalecimento da China e a perda de influência do dólar no comércio internacional.

No entanto, é importante notar que essa mudança no cenário econômico pode representar uma oportunidade de desenvolvimento econômico e redução da dependência em relação aos países desenvolvidos para os países emergentes. Embora os receios ainda existam, é preciso compreender que o mundo mudou desde a criação do FMI em 1944, a queda do muro de Berlim e a dissolução da União Soviética e que novos atores econômicos estão surgindo para desafiar a posição hegemônica dos países desenvolvidos.