Desinformação médica persiste e lucra nas redes, impulsionada por Big Techs

Sleeping Giants alerta para o aumento de conteúdos falsos sobre saúde, com destaque para o caso de médico que vendia “cura” com testosterona e disseminava fake news na pandemia

Do ICL Notícias, editado por Caso de Política – Apesar do fim da pandemia de Covid-19, a desinformação sobre tratamentos e prevenção de doenças continua a proliferar nas redes sociais, impulsionada por recursos de publicidade das grandes empresas de tecnologia. A denúncia é da Sleeping Giants Brasil (SGBR), que acompanha esses casos e atua para desmonetizar conteúdos falsos e discursos de ódio.

“O autor do conteúdo paga a plataforma para que otimize a exibição, alcançando um público ainda maior, levando, inclusive, a plataforma a se tornar um beneficiário desse conteúdo. As big techs estão, nos últimos dois anos, cada vez mais se tornando permissivas para esse tipo de conteúdo”, explica Humberto Ribeiro, cofundador e diretor jurídico do Sleeping Giants.

Segundo Ribeiro, as plataformas utilizam dados dos usuários para direcionar informações falsas para aqueles mais suscetíveis a serem persuadidos. A organização acompanha a desinformação na saúde pública desde a pandemia, quando atuava contra a divulgação de informações falsas sobre vacinação e tratamentos ineficazes para a Covid-19.

“Existem consequências para a saúde pública, seja com o aumento dos gastos do sistema de saúde pública, seja com a transmissão de doenças infecciosas não tratadas devidamente, como aconteceu durante a crise de saúde pública da Covid-19”, completa Ribeiro.

“Império Masculino” e Fake News

Um dos casos citados pelo diretor do Sleeping Giants é o do médico Alessandro Loiola, que utiliza seu perfil no Instagram para divulgar uma forma de construir o “império masculino”. Nos cursos vendidos por R$ 599, Loiola comercializa supostos protocolos naturais de “otimização de testosterona”.

O médico questiona os níveis considerados saudáveis de testosterona e incentiva os homens a buscarem o valor máximo, mesmo que já possuam níveis normais. Loiola teve o nome citado na CPI da Pandemia por disseminar fake news sobre a Covid-19, criticando o uso de máscaras e as vacinas.

Responsabilização das Plataformas

A Sleeping Giants defende o fim da imunidade das plataformas e sua responsabilização sobre os conteúdos impulsionados. O assunto está em discussão no Supremo Tribunal Federal, que debate o artigo 19 do Marco Civil da Internet.

“Nós defendemos que essa imunidade não pode ser estendida aos conteúdos que a plataforma recomendou ou aos conteúdos que a plataforma permitiu que fossem objetos de publicidade digital. Se a plataforma recebeu um recurso para otimizar, fez um impulsionamento, ou fez um anúncio daquele conteúdo, ela pode ser responsável”, ressalta Ribeiro.

A organização também tem articulado, junto ao governo federal, o envio de um projeto de lei substitutivo ao PL das Fake News, parado na Câmara dos Deputados. “Existe uma omissão legislativa na Câmara”, destaca Humberto.

“O governo pode fazer muito, mas há um medo de isso afetar a popularidade, que é um medo legítimo. Mas, é muito perigoso que esse medo também paralise a Presidência da República e que deixe toda a responsabilidade nas mãos do Congresso.”

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STF julga artigo central do Marco Civil da Internet sob pressão da Globo

 

Liberdade de expressão e futuro da mídia independente estão em jogo com possível mudança na legislação

Caso de Política | Luís Carlos Nunes – O Supremo Tribunal Federal (STF) inicia nesta terça-feira (26) o julgamento sobre a constitucionalidade do artigo 19 do Marco Civil da Internet, peça-chave na proteção da liberdade de expressão no Brasil. O dispositivo limita a responsabilização das plataformas digitais pelos conteúdos publicados por seus usuários, salvo em casos em que, após decisão judicial, as empresas se recusem a remover material considerado ilegal.

Em editorial publicado na véspera do julgamento, o jornal O Globo pressionou pela revogação do artigo, defendendo um modelo mais rígido de regulação. A proposta seria substituir a atual exigência de ordem judicial por um sistema baseado em notificações diretas, onde conteúdos seriam removidos a partir de simples solicitações. Especialistas e críticos apontam que essa mudança ameaça diretamente o jornalismo independente e as vozes dissidentes que encontraram espaço na internet.

Atualmente, o artigo 19 equilibra liberdade de expressão e responsabilização, permitindo moderação de conteúdos de acordo com regras claras. A postura da Globo, segundo analistas, reflete sua dificuldade histórica em lidar com a pluralidade de opiniões promovida pela era digital. Enquanto plataformas como YouTube e redes sociais ampliaram o acesso a informações diversificadas, a grande mídia enfrenta o desafio de manter sua hegemonia.

A ameaça à pluralidade

O modelo defendido pelo conglomerado midiático pode abrir precedentes para censura preventiva, onde plataformas removeriam conteúdos de maneira automática para evitar riscos jurídicos. Tal cenário pode comprometer a liberdade de expressão, silenciando vozes críticas e alternativas.

Embora o editorial do Globo utilize a disseminação de discursos de ódio como justificativa, críticos lembram que o problema não se restringe ao ambiente digital. Ao longo de sua história, a mídia tradicional no Brasil, incluindo a própria Globo, foi protagonista de narrativas polarizadoras e episódios marcados por preconceitos e desinformação, como o apoio ao regime militar e a cobertura enviesada de movimentos sociais.

Contexto internacional e diferenças locais

A experiência da União Europeia, citada no editorial como modelo para o Brasil, não oferece um paralelo direto. Enquanto os europeus contam com sistemas robustos de comunicação pública, o Brasil depende de plataformas digitais como espaços democráticos de expressão, sobretudo para populações marginalizadas e veículos alternativos.

Com o Projeto de Lei das Redes Sociais parado no Congresso, o julgamento do STF ganha ainda mais relevância. Manter o artigo 19 é, para muitos, a única forma de garantir equilíbrio entre liberdade e responsabilidade em um cenário onde a mídia independente tem se mostrado essencial para a democracia brasileira.

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