China diz que vai transformar “tarifaço” dos EUA em “oportunidade”

Pressão de Trump é oportunidade para novo desenvolvimento, diz China

Agência Brasil | Lucas Pordeus León – Em editorial publicado nesse domingo (6), o jornal porta-voz do Partido Comunista Chinês (PCCh) – o Diário do Povo – disse que a China está preparada para a guerra de tarifas de Donald Trump e que o “céu não cairá” por causa das novas barreiras comerciais.

Devemos transformar pressão em motivação e encarar a resposta ao impacto dos EUA como uma oportunidade estratégica para acelerar a construção de um novo padrão de desenvolvimento”, afirmou o editorial do principal jornal do PCCh.

O Diário do Povo citou ainda a frase do presidente da China, Xi Jinping, sobre a resiliência do mercado chinês, que pode suportar ventos fortes e tempestades.

“A economia chinesa é um oceano, não um pequeno lago. Tempestades podem virar um pequeno lago, mas não podem virar o oceano”, disse o mandatário chinês citado pelo jornal.

Nessa segunda-feira (7), Trump ameaçou a China com tarifas adicionais de 50% caso Pequim não recue da decisão de impor tarifas recíprocas à Washington.

Resistência

O jornal reconhece que as tarifas anunciadas pelos Estados Unidos contra a China vão prejudicar o comércio entre as duas maiores potências do planeta.

Terá inevitavelmente um impacto negativo nas exportações da China no curto prazo e aumentará a pressão sobre a economia”, disse.

Por outro lado, o Diário do Povo argumenta que a China tem capacidade de resistir a essa pressão, que o país tem reduzido a dependência em relação à economia dos EUA e aumentado o controle sobre tecnologias chaves.

Construímos ativamente um mercado diversificado e nossa dependência do mercado dos EUA vem diminuindo. As exportações da China para os EUA como parcela do total de exportações caíram de 19,2% em 2018 para 14,7% em 2024”, destacou o jornal.

O Diário do Povo lembra que a guerra comercial com os EUA começou em 2017. “Não importa o quanto os EUA lutaram e nos pressionaram, sempre mantivemos o desenvolvimento e o progresso, demonstrando nossa resiliência de ‘quanto mais pressão enfrentamos, mais fortes nos tornamos’”, acrescentou o editorial.

O jornal do Partido Comunista Chinês acredita que a pressão de Trump forçará o país a acelerar e concretizar “avanços tecnológicos essenciais em áreas-chave”. Além disso, lembra que organizações de todo o mundo confiam na estabilidade da economia chinesa.

Muitas instituições financeiras de Wall Street aumentaram suas previsões para o crescimento econômico do nosso país, estão otimistas sobre o mercado de capitais da China e consideram a ‘certeza’ da China como um porto seguro para se proteger contra a ‘incerteza’ dos EUA”, completou.

Preparados

O editorial do jornal chinês destacou ainda que o Comitê Central do PCCh já previa que os EUA implementariam novas e crescentes rodadas de medidas para contenção econômica da China.

Sabemos o que estamos fazendo e temos estratégias em mãos. Estamos travando uma guerra comercial com os EUA há oito anos e acumulamos uma rica experiência nessa luta. Os planos de resposta também são preparados com antecedência”, disse o periódico.

Mercado interno

A jornal diz que a China se apoiará no seu imenso mercado interno para se contrapor às tarifas dos EUA. Segundo dados oficiais, 85% das empresas que exportam têm negócios no mercado interno. Além disso, o total de vendas no mercado interno representa 75% do total dos negócios.

Devemos adotar a expansão da demanda interna como uma estratégia de longo prazo, nos esforçar para fazer do consumo a principal força motriz e lastro para o crescimento econômico e aproveitar ao máximo as vantagens do nosso mercado de escala supergrande”, afirmou.

Parceiros comerciais

O editorial lembra ainda que os EUA não podem prescindir da China para muitos produtos, tanto de consumo, como de investimentos e intermediários.

A taxa de dependência de diversas categorias ultrapassa 50%, e será difícil encontrar fontes alternativas no mercado internacional no curto prazo”, destacou.

Ao mesmo tempo, o Diário do Povo citou que a China é o principal parceiro comercial para mais de 150 países, o que inclui o Brasil e a maioria dos países da América do Sul.

A cooperação econômica e comercial em mercados emergentes tem enorme potencial e está se tornando cada vez mais uma base importante para estabilizar nosso comércio exterior. Injetaremos mais estabilidade no desenvolvimento econômico global por meio do nosso próprio desenvolvimento estável”, completou o editorial.

Tarifaço de Trump deve reduzir produção, afetar empregos e pressionar dólar no Brasil

Medida protecionista do governo americano ameaça exportações brasileiras, pressiona a indústria siderúrgica e desafia a diplomacia nacional em busca de alternativas

Caso de Política | Luís Carlos Nunes – A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 25% sobre as importações de aço e 10% sobre o alumínio atinge diretamente a economia brasileira. O impacto deve se refletir na produção siderúrgica, no emprego e na cotação do dólar, ampliando incertezas para a indústria nacional e exigindo reação diplomática do governo brasileiro.

Os Estados Unidos são o principal mercado do aço brasileiro, respondendo por 48% das exportações do setor. Com a sobretaxa, a indústria siderúrgica precisará redirecionar esse volume para outros países, como China e membros da União Europeia, uma tarefa desafiadora em meio ao cenário global de desaceleração econômica. Sem mercados alternativos viáveis, o setor corre risco de redução de atividade e cortes de postos de trabalho.

O encarecimento do produto brasileiro pode comprometer a competitividade da indústria nacional e pressionar o mercado interno. “O consumo de aço no Brasil não absorve esse volume, pois setores como construção civil e indústria automobilística já enfrentam um ritmo lento de recuperação”, explica o economista Rafael Passos. Para muitas siderúrgicas, a única alternativa será reduzir produção, levando a demissões e possível fechamento de unidades.

Além do impacto na indústria, a medida deve influenciar o câmbio. A restrição às exportações de aço pode diminuir a entrada de dólares no país, pressionando o real e favorecendo uma alta na moeda americana. A volatilidade cambial afeta desde o preço dos combustíveis até setores dependentes de insumos importados, como tecnologia e farmacêutica.

A decisão de Trump também altera a dinâmica do comércio internacional. A União Europeia e a Coreia do Sul já anunciaram que estudam respostas à medida, e o Brasil avalia formas de reação sem ampliar tensões com Washington. O Itamaraty sinalizou que buscará diálogo para negociar exceções, mas também analisa possíveis retaliações, como barreiras a produtos americanos.

A reciprocidade comercial emerge como um fator central. Durante a gestão Bolsonaro, o Brasil aceitou restrições ao aço em nome da manutenção da aliança com Trump, mas agora a postura do governo deve ser diferente. “O Brasil não pode se furtar a reagir. A imposição de tarifas fere a lógica da parceria econômica e exige uma resposta estratégica”, afirma Jorge Ferreira dos Santos Filho, especialista em comércio exterior.

A decisão americana também reforça a necessidade de o Brasil diversificar mercados e reduzir a dependência do aço para os EUA. O fortalecimento de acordos comerciais com Ásia e Europa pode mitigar impactos futuros e diminuir vulnerabilidades diante de oscilações políticas em Washington.

A disputa ilustra como medidas protecionistas podem gerar efeitos colaterais globais. Trump aposta no discurso de fortalecimento da indústria americana, mas a imposição de tarifas tende a encarecer insumos para fábricas locais e afetar aliados estratégicos. No Brasil, a resposta precisa equilibrar pragmatismo e firmeza, evitando prejuízos ainda maiores para a economia nacional.

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